O que deu ERRADO com o Simulador de Direção Veicular? – Parte 1
- Ricardo Borges
- 10 de abr. de 2017
- 4 min de leitura
Sabia que a ideia de obrigatoriedade do Simulador de Direção no Processo de Habilitação já tem quase 20 anos? A Resolução nº 74 de 1998 do CONTRAN, artigo 9, inciso VI, do parágrafo segundo, rezava que uma das condições para credenciamento dos CFCs (Centros de Formação de Condutores) era “ter ... no mínimo, um simulador de direção ou veículo estático, quando credenciado para o ensino de prática de direção”.
O assunto voltou à tona com mais força a partir de 2015. Porém, o que você verá nesse artigo é o que pode ser chamado de “tiro que saiu pela culatra”!
O SIMULADOR DE DIREÇÃO VEICULAR É MESMO NECESSÁRIO?
Necessário é, não para todos. De acordo com Araceli Gonzáles, psicóloga especializada em trânsito e representante nas Américas da Traffic Psychology Internacional, com sede na Europa, o Simulador de Direção é mais indicado para pessoas com problemas psicomotores e para o tratamento de pessoas com “amaxofobia” – doença conhecida no Brasil como Medo de Dirigir. Segundo Araceli, o simulador de direção “pode ajudar no aprendizado nas primeiras fases. Mas quando a pessoa tem mais confiança e conhecimento sobre o veículo, tem que dirigir o veículo. Primeiro numa via segura, depois numa via mais complexa”. A psicóloga argentina complementa dizendo que “se a pessoa tem problemas de psicomotricidade, não pode dirigir. É muito perigoso para ele”, dando ênfase ao uso prévio do simulador.
O SIMULADOR DE DIREÇÃO É NECESSÁRIO PARA TODOS OS CANDIDATOS À HABILITAÇÃO?
Antes de tornar o simulador de direção algo de necessidade geral, é importante que se pontue algumas situações e condições onde ele se faz completamente desnecessário. Uma das situações é a de que alguns candidatos já iniciam o processo de habilitação sabendo dirigir ou com grande noção sobre a direção veicular. Nesses casos, o processo serve apenas para regularizar sua situação. Outra condição que observo é a predisposição ao aprendizado veicular. Existem pessoas, independente de sexo ou idade, que mesmo sem nunca ter dirigido ou pilotado, aprendem tudo de forma rápida e precisa. Porém, existem outras que, embora tenham condições para um bom aprendizado veicular, não recebem boa instrução. O fato dos Detrans do Brasil não trabalharem os resultados das aprovações e reprovações por meio do método estatístico limita dados importantes para esse tipo de avaliação. Ainda assim, acredito que pessoas que dispensam o uso do simulador são maioria.

O simulador de direção é completamente dispensável com melhor qualificação do candidato durante o curso teórico e prático do CFC (Centro de Formação de Condutores), mesmo para pessoas com problemas de psicomotricidade. Nos casos de candidatos com amaxofobia (medo de dirigir), seria de mais ajuda se os instrutores tivessem ajuda de um psicólogo.
Um erro de qualificação do candidato que considero grave está no curso teórico do CFC. O foco do curso não é ensinar o aluno a dirigir um veículo e sim a como ser um bom motorista, como se já fosse habilitado. Porém, como ser um bom motorista se não aprender a dirigir corretamente? Temos comprovado pela experiência que as mudanças feitas por Resoluções para o curso teórico e prático do CFC não tem sido capazes de melhorar o aprendizado prático veicular. Uma maneira de qualificar o aluno qual aprendiz da direção é ensinar pra ele o que chamo de Teoria da Prática Veicular. O aluno precisa entender como dirigir o veículo ainda durante o curso teórico do CFC. Só assim tirará mais proveito das aulas práticas e saberá o que fazer e o que não fazer no trânsito.
A TEORIA DA PRÁTICA VEICULAR
A Teoria da Prática Veicular inclui em seu conceito o conhecimento dos controles, comandos e equipamentos do veículo, sua função e correto uso. A compreensão da ergonomia veicular, da mecânica corporal, da cinesiologia e motricidade humana, além do entendimento e uso da mente com o corpo para desenvolver boa noção temporal, espacial e lateralidade. Ao dirigir ou pilotar é importante ainda o correto uso da percepção tridimensional e equilíbrio.

O CURSO TEÓRICO DEVE SER USADO PARA ENSINAR A DIRIGIR O VEÍCULO, ENQUANTO O CURSO PRÁTICO A SER UM BOM MOTORISTA NO TRÂNSITO!
Aspectos físicos do veículo como controle e coordenação dos pedais, câmbio e volante durante manobras e deslocamentos são mais bem administradas quando se têm trabalhado todos esses aspectos físicos, emocionais e psicológicos do candidato. Sem essa compreensão, ainda no curso teórico, o instrutor prático dificilmente saberá o que fazer para ajudar o aluno a atingir seu objetivo principal, aprender a dirigir. Com a compreensão da Teoria da Prática Veicular, o candidato já poderia identificar algum problema ou dificuldade. Já o instrutor prático reconheceria, no caso de alguns poucos, que sozinho não teria como resolver. É aí que entra a ajuda profissional!
Falando sobre o trabalho do psicólogo e do instrutor, Araceli González defende que cada um possui funções diferentes, porém, complementares. Ela diz que “o psicólogo vai fazer uma análise do comportamento, mas quem educa é o instrutor”. Araceli acredita que não tem como um psicólogo avaliar previamente se um candidato tem ou não condições de aprender a dirigir. Mas admite que “é muito importante que os dois [instrutor e psicólogo] trabalhem juntos nos casos mais difíceis. Porque os dois olham coisas diferentes, mas complementares, que ajudam o aluno no processo do aprendizado”. Mas quem deve tomar a iniciativa e quando se faz necessário a participação do psicólogo? Araceli diz que “o psicólogo deve atuar quando o instrutor detecta alguma coisa que não é normal no processo do aprendizado. Mas tem que começar o processo de aprendizado, pra conhecer como é essa pessoa”. Araceli finaliza seu comentário de forma intrigante. Na visão dela, “quando a pessoa [que apresentou grande dificuldade ou recebeu ajuda profissional] vai pedir sua licença (ou habilitação), ali sim tem que fazer uma avaliação psicológica”. Não mais para julgar sua aptidão, mas para conhecer sua experiência durante o processo de ensino aprendizado prático, gerando dados estatísticos para melhoramento do processo em si.
A segunda parte desse artigo fará uma analise da legislação, construção física e programação do software dos simuladores, avaliando seu nível de eficiência. Também responderá se os CFCs e candidatos à habilitação são mesmo obrigados a comprar ou pagar pelo uso obrigatório dos equipamentos e seu software.
Ricardo Borges
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